terça-feira, 11 de agosto de 2015

Ricardo Boechat mais uma vez lembra que ainda existe verdade no Brasil

"Eu fico me perguntando onde estão os elementos concretos políticos e jurídicos para se pedir o impeachment de Dilma Rousseff. O Brasil já viveu uma inflação de 70% ao mês... 70% ao mês, já tivemos índices de desemprego maiores do que esse, já vivemos crises econômicas maiores do que essa. Então que papo é esse de querer eleger uma situação que sabemos que é grave, mas que sabemos também que não é inédita, como sendo a pior situação que já passamos, para se exigir os desfechos extremos que estão sendo exigidos. Onde estão as condições, os fatos objetivos para pedir o impeachment ou a renúncia da Dilma. Quer tirar Dilma do poder, tira primeiro o PT das prefeituras no ano que vem, derrota os aliados do PT. Tira Dilma em 2018, no voto. Vem o Michel Temer dizer que precisa de alguém que unifique o País. Quem seria Michel. Você? Você que integra um partido que pode ser encarado em alguns momentos como uma quadrilha. O PMDB age como quadrilha e agiu como quadrilha em muitas ocasiões. Então essa soma de conselheiros, palpiteiros e arautos do fim do governo vão criando esse clima em que não se pode fazer nada, não se pode enxergar um palmo diante do nariz. Dona Dilma Rousseff tem que pagar o pato que comprou. E o pato que ela comprou foi se eleger presidente e tem que governar. Tem que parar de dar conversa a esses vagabundos do Congresso e governar. Tem que parar de dar conversa a articulações de menor expressão distribuindo carguinhos, distribuindo ministeriozinhos, distribuindo boquinhas para poder governar. É um absurdo a gente estar há sete meses de um governo que foi eleito legitimamente e o país estar paralisado, com uma crise política que alimenta uma crise econômica. Qualquer parlamentar dá um pum no congresso e o País entra em pânico. O Cunha fala qualquer bobagem e tem 50 mil jornalistas ao lado dele para repercutir. Que tal se a gente não der bolas para o que o Cunha diz? E que tal se a gente não der bolas para o que o Renan representa. Estou pouco me lixando se ela sofrer impeachment ou renunciar. O discurso do impeachment e o discurso da renúncia são duas faces da mesma moeda. E eu não vejo razões legais ou constitucionais para o impeachment. A grande bandidagem brasileira está no Congresso Nacional. A gente tinha que estar pedindo o impeachment de Cunha, o impeachment de Renan, tem que pedir impeachment do congresso que só trabalha em prol do seu próprio umbigo. E estes a gente fica tratando como se fossem heróis da Pátria”.

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Desta vez é verdade. O missionário Itamar de Almeida, o “Padre do Junco” passou para o andar de cima. Acompanhei a trajetória de Itamar por décadas. Por volta de 1978 fui convidado a cantar um baião de viola na calçada da Catedral de Santa Luzia sobre o Meio Ambiente, um tema ainda pouco explorado.  Era uma Campanha da Fraternidade. De longe, vi aquela figura agitada. Um homem vestido de roxo, uma bata que mais parecia uma batina, mas tinha também quê de mortalha.  Estava agitadíssimo, pensando que se tratava de um violão e que eu e Antonio Lisboa iríamos cantar “músicas da moda”. Quando viu que se tratava de poesia popular, cantoria nordestina, repente ao som da viola, aplaudiu e gritou que poesia cabia, sim, naquele ambiente. Que os versos dos violeiros eram como salmos a guiar o povo... Depois tive de vê-lo em milhares de lugares diferentes, sempre brandindo a palavra de Deus e a crítica mordaz, contundente contra “os erros do mundo”. Língua de fogo.  Era da linha do profeta Amós, criticando duramente os poderosos. Tinha a têmpera de João Batista, achando que sua cabeça estava sempre a prêmio, por mais que alguns poderosos não o levassem a sério por saberem das suas limitações psíquicas. Suas cartas-denúncias eram famosas, escritas a mão e reproduzidas a mancheia, em cópias xerox distribuídas contra tudo e contra todos os que oprimem o povo. Decepcionado com a Igreja católica, depois até de dar surra em padre com cordão de São Francisco, bandeou-se para algumas seitas protestantes, a ponto de, por último se engraçar do picareta a quem chamam de “Apóstolo Valdomiro”. Mas estava retomando o caminho por ter se tornado um admirador do Papa Francisco. Um dia, nos idos de 2004, ficou com raiva de mim porque me aliei ao ex-deputado Francisco José a quem chamava de fariseu. Passou a me esculhambar por todos os lugares onde faziam suas pregações com língua de fogo. Conseguiu uma intriga pessoal com a minha esposa que nunca o perdoou. Quando rompi com Francisco José, ele passou a me elogiar em todo canto, de novo. Quando criei o programa A Voz da Serra, na Rádio Difusora, quase todos os domingos contava com sua presença dentro do estúdio da emissora, de radinho de pilha nas mãos, para ouvir “no aparelho” o que estávamos dizendo a três metros de distância dele. Interferia, lá da sua cadeira, quase sempre aos gritos. De sua cadeira gritava coisas maravilhosas, mas que se saíssem no microfone nos dariam belos processos, mas nunca pediu para falar no microfone. Sabia que iria atrapalhar pelo seu radicalismo maior que o meu e de Raimundo Félix. Itamar sempre nos pedia dinheiro. Todos os domingos, e nós sempre dávamos, porque sabíamos que ele saÍa dali e dava o dinheiro a quem precisava mais do que ele. Que Deus o tenha.  Itamar foi um inocente. Não tinha o pecado, porque não tinha maldade, mesmo em meio às diatribes que dizia com sua língua de fogo. Nem nas suas loucuras, pecou. Perturbado com as desgraças do mundo, sua mente agia, em velocidade maior que a necessária. Seu lugar é lá. Não era missionário, padre, pastor, nada disso oficialmente. Mas era puro na sua loucura pela defesa do Evangelho.

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