quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Monsenhor Pedro Ferreira, do Coral do Canto do Povo à Camerata de Vozes do RN

De vez em quando, é interessante render loas a quem merece e pouco é reverenciado. O trabalho do monsenhor Pedro Ferreira na formação da música erudita e na criação de coralistas no Rio Grande do Norte é desses dignos de manchetes garrafais, mas permanece na rotina obscura de ensaios e apresentações sem notícia. O então “padre” Pedro foi responsável, entre outros, pela criação da Banda Sinfônica da Universidade e também de um dos maiores patrimônios musicais do Estado: o Coral Canto do Povo. Isso há quase três décadas. Nos últimos anos recebeu alguma oposição e deixou o cargo de regente do Canto do Povo ao maestro Janilson Batista. Em 5 de junho de 2012, Pedro Ferreira fundou a Camerata de Vozes, assim como o Canto do Povo, também vinculada à Fundação José Augusto. Desde então se firmou como um dos principais grupos de coralistas do Estado, concebida para um gênero de música com origem nas raízes das cameratas italianas, conforme explicou o monsenhor Pedro. O grupo é composto por 34 membros muito bem selecionados pelo próprio regente, dissidentes de outros grandes grupos do Estado. Ensaia, ou ensaiava, no Teatro de Cultura Popular Chico Daniel (TCP). Em seu repertório trabalha composições variadas, passando pela música sacra, afro-americanas e brasileiras. O número mais reduzido de músicos permite trabalhar também o aprendizado estrutural das peças, que vai ao cerne da música como expressão e tradução máxima da sua dimensão espírita de silêncio, sons e sentido, da criação à linguagem e transformação dos sentidos. Assim, as cameratas permitem apresentações em locais menores, diferentemente de grandes grupos e orquestras. Portanto, fica o registro da importância do trabalho realizado pelo monsenhor Pedro Ferreira, da Camerata de Vozes e do tradicional movimento coralista do RN, tal qual o movimento de bandas de música espalhado pelo interior do nosso Estado. Essa é a nossa tradição musical mais latente e que se mantenha o apoio total a essa gente!

Padre Pedro Ferreira
Eu estava da direção geral da Fundação José Augusto quando tive que administrar uma crise. O padre Pedro Ferreira, regente do Coral Canto do Povo não queria mais ficar na função porque tinha dificuldades de fazer todos os componentes cumprirem a disciplina que um coral, especialmente com a qualidade do Canto do Povo, precisa para funcionar com a qualidade que lhe caracteriza.

Muito diálogo
Diante da impossibilidade, mesmo com inúmeras sessões de diálogo com ele e com os membros do coral, aceitei que um dos membros, escolhido pelos colegas, assumisse a regência. E assim passou um bom tempo, mas o próprio coral pediu a volta do Padre Pedro. 

Tentativa de salvar
Depois que saí, a nova gestora fez a divisão, criando a Camerata de Vozes. Fiquei calado, mas fiquei sabendo que era a única forma de manter o trabalho. Respeitei. Agora está havendo um impasse. Quando decidi transcrever a matéria acima, do blog Substantivo Plural, de Sérgio Villar, a polêmica ainda não estava instalada. Morreu o meu amigo Zé Rodrigues, fotógrafo e cinegrafista e dediquei a coluna de ontem a ele, deixando a matéria da camerata para hoje. Agora vejo que a situação está conflagrada. Não vou me meter na polêmica, como não tenho me metido em qualquer polêmica que envolva a FJA, mas como achei a matéria muito boa, exerço meu direito de transcrevê-la.

Excelência
Em inúmeras palestras e reuniões falei, quando diretor da FJA, que ali tínhamos, entre muitas coisas boas e ótimas, três centros de excelência: a Orquestra Sinfônica, o Balé do Teatro Alberto Maranhão e o Coral canto do Povo. Se o padre tem dificuldades de conviver com o coral inteiro, há que se encontrar uma solução para os que não entraram na Camerata, que continuam tendo todos os seus direitos trabalhistas garantidos, desde a conquista do Plano de Cargos e deverão continuar tendo. Minha preocupação é que esta pressão de agora, por mais bem intencionada que seja, em vez de unificar o Coral Canto do Povo, venha a destruir Coral e Camerata.

Levando o barco devagar
Meu amigo e companheiro Rodrigo Bico tem nas mãos um grande abacaxi. Parece aquela parábola africana, do ovo na mão. Se apertá-lo ele quebra na mão mesmo, mas se afrouxar a mão, ele cai e quebra no solo. Portanto, o momento exige uma solução salomônica, que eu não tenho a oferecer, longe que estou distante do fogo da decisão. Mas com certeza, qualquer decisão precipitada pode trazer prejuízos irreparáveis. Ao amigo Bico, o conselho de Paulinho da Viola: “Faça como o velho marinheiro, que durante o nevoeiro, leva o barco devagar”.

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